Achado foi feito no sítio arqueológico de Chega Sofla, um antigo cemitério da Idade do Cobre localizado na região do Golfo Pérsico
Felipe Sales Gomes, sob supervisão de Fabio Previdelli Publicado em 05/06/2025, às 18h45
Arqueólogos descobriram no oeste do Irã o crânio de uma jovem que viveu há mais de 6.000 anos e morreu de forma violenta. O achado foi feito no sítio arqueológico de Chega Sofla, um antigo cemitério da Idade do Cobre localizado na região do Golfo Pérsico. Segundo os pesquisadores, a mulher sofreu um golpe fatal na cabeça, provavelmente causado por um objeto de lâmina larga.
A análise, publicada em 22 de maio no International Journal of Osteoarchaeology, foi conduzida pelos arqueólogos Mahdi Alirezazadeh e Hamed Vahdati Nasab, da Universidade Tarbiat Modares.
Eles identificaram uma fratura triangular no lado esquerdo do crânio da mulher — batizada de BG1.12 — e apontaram que o ferimento ocorreu momentos antes de sua morte. No entanto, ainda não se sabe se o golpe foi acidental ou intencional.
Sabemos que essa mulher sofreu a fratura nos momentos finais de sua vida, mas não temos evidências diretas de que tenha sido atacada deliberadamente”, explicou Alirezazadeh em entrevista à Live Science.
O crânio apresentava uma deformação incomum: era alongado, com formato cônico. Os pesquisadores acreditam que essa característica seja resultado de uma prática ancestral conhecida como bandagem craniana — técnica que envolve moldar a cabeça de uma criança ainda em desenvolvimento com o uso de faixas ou estruturas rígidas. Essa prática era comum em diversas culturas antigas como sinal de status, identidade cultural ou beleza.
No sítio arqueológico de Chega Sofla, datado entre 4700 e 3700 a.C., foram encontrados sepultamentos com e sem modificação craniana, sugerindo uma sociedade complexa, onde diferentes grupos conviviam lado a lado.
“As pessoas desse período já tinham templos, sistemas de crença e construções monumentais. Perto do final, vemos inclusive os primeiros sinais da escrita e da urbanização”, afirmou Alirezazadeh.
Durante mais de uma década de escavações lideradas pelo arqueólogo Abbas Moghaddam, o Projeto Pré-histórico Zohreh encontrou dezenas de crânios alongados e alguns dos túmulos mais antigos do mundo feitos com tijolos.
No caso de BG1.12, exames de tomografia revelaram que tanto os ossos do crânio quanto a díploe — camada interna esponjosa que atua como amortecedor — eram mais finos que o normal. Isso pode ter tornado o crânio mais vulnerável a traumas, o que possivelmente contribuiu para a gravidade do ferimento que levou à morte da jovem.
A descoberta lança nova luz sobre práticas culturais antigas e os riscos associados à modificação corporal intencional. Para os pesquisadores, o caso de BG1.12 oferece um raro vislumbre dos dilemas sociais, médicos e talvez até violentos vividos por sociedades da pré-história.
