Arqueólogos reagiram com indignação à decisão do governo peruano de reduzir em quase metade o parque arqueológico que protege as Linhas de Nazca
Redação Publicado em 03/06/2025, às 11h00
Arqueólogos e ambientalistas reagiram com indignação à decisão do Ministério da Cultura do Peru de reduzir em quase metade o parque arqueológico que protege as Linhas de Nazca. A medida, tomada oficialmente na última sexta-feira, 30, reduziu cerca de 5.600 km² para aproximadamente 3.200 km² da área anteriormente protegida.
As Linhas de Nazca, declaradas Patrimônio Mundial da Unesco, são a segunda maior atração turística do país, atrás apenas de Machu Picchu. As figuras gigantes no deserto, como o beija-flor, o macaco e a baleia, atraem milhares de visitantes por ano.
Em 2023, arqueólogos descobriram centenas de novos geoglifos, com auxílio de inteligência artificial, datados de mais de 2 mil anos — anteriores às linhas mais conhecidas.
Em nota, o Ministério da Cultura afirma que a mudança se baseia em duas décadas de estudos e consultas e que não afeta a zona de amortecimento nem o núcleo reconhecido pela Unesco. O atual ministro, Fabricio Valencia, declarou à rádio nacional neste sábado, 31, que a atualização visa “refletir com mais precisão a relação entre os geoglifos e as características físicas registradas na área, garantindo sua proteção e preservação”.
Especialistas contestam. O advogado ambiental César Ipenza considera que não há estudos suficientes para assegurar que a área cortada não tenha relevância arqueológica. “Essa área, que pertence aos nossos ancestrais, exige proteção real e não medidas políticas de conveniência”, afirmou ao The Guardian.
Sidney Novoa, da ONG Amazon Conservation, calcula que mais de 2.000 km² foram retirados da zona protegida. Em entrevista ao jornal britânico, ele disse que essa área abriga cerca de 300 concessões registradas no programa Reinfo, uma lista de mineradores informais supostamente em processo de legalização.
Para Ipenza, o Reinfo serve como "fachada para a continuidade da mineração ilegal", sem fiscalização efetiva. A mudança, segundo ele, favorece interesses extrativistas em detrimento da conservação ambiental.
Mariano Castro, ex-ministro do Meio Ambiente, também criticou duramente a decisão: “O Ministério da Cultura não está levando em conta a expansão de centenas de atividades extrativas que, somadas, terão impacto direto nas áreas arqueológicas sensíveis de Nazca", destacou ao The Guardian.
