A descoberta, agora exibida em Limassol, mostra um homem desconhecido com um fino bigode, segurando uma pena ao lado de uma pilha de papéis ou livros
Felipe Sales Gomes, sob supervisão de Fabio Previdelli Publicado em 06/02/2025, às 14h40
Na ilha de Chipre, pesquisadores revelaram um retrato escondido por séculos sob uma pintura a óleo de 1570 do mestre renascentistaTiciano.
A descoberta, agora exibida em Limassol, mostra um homem desconhecido com um fino bigode, segurando uma pena ao lado de uma pilha de papéis ou livros. Essa cena contrasta com a imagem posterior de Jesus Cristo amarrado e coroado de espinhos, que Ticiano pintou sobre o retrato original.
“O quadro guarda um segredo: uma pintura desconhecida sob a superfície”, afirmou à Reuters o professor Nikolas Bakirtzis, líder da equipe do Instituto de Chipre (CyI), uma instituição educacional sem fins lucrativos.
A obra final, intitulada Ecce Homo ("Eis o Homem", em português), retrata Jesus ao lado de Pôncio Pilatos, que conduziu seu julgamento antes da crucificação.
Os pesquisadores identificaram o retrato oculto enquanto preparavam a pintura para conservação. Ao analisá-la sob um microscópio, notaram pigmentos distintos visíveis através das rachaduras naturais na camada superior. “Foi como montar um quebra-cabeça”, explicou Bakirtzis à agência internacional.
Utilizando técnicas de imagem e análises não invasivas, especialistas dos Laboratórios de Caracterização de Arte Andreas Pittas (APAC) no CyI conseguiram reconstruir a imagem original. Baseando-se em radiografias, eles recriaram uma pintura a óleo do homem retratado.
“Claramente, trata-se do retrato de um banqueiro, advogado ou outro profissional em seu ambiente de trabalho”, afirmou Bakirtzis, que também dirige o APAC. A descoberta e a reprodução do retrato oculto estão em exibição em Limassol até 10 de março.
Ticiano nasceu em 1488 e, em seu ateliê em Veneza, produziu centenas de pinturas até sua morte em 1576. Os pesquisadores sabem que ele frequentemente reutilizava telas, e neste caso, ele inverteu um retrato completo e pintou sobre ele o Ecce Homo.
Não conheço outro caso onde seja possível mapear com tanta precisão a reutilização de uma composição anterior", disse Bakirtzis à Reuters.
Ele também acredita que Ticianoincorporou elementos do retrato original na nova obra, usando, por exemplo, a linha do maxilar do homem como base para as cordas que amarram os pulsos de Cristo.
“Isso revela a mão de um artista experiente. O líder do ateliê, o próprio Ticiano… e é por isso que esta versão do Ecce Homo preserva sua arte”, concluiu Bakirtzis.
