Walt Disney está sendo transformado em um robô — e seus familiares estão incomodados

Embora o Disney World seja amplamente conhecido como "o lugar mais feliz do mundo", nem todos estão satisfeitos com as novas homenagens planejadas pela empresa. 

Joanna Miller, neta de Walt Disney, fez duras críticas à Walt Disney Company por desenvolver uma versão animatrônica de seu avô, criada para celebrar os 70 anos do Disneyland Resort em julho.

Em uma publicação no Facebook, Miller classificou a iniciativa como “desumanizadora” e disse que o chamado “vovô robótico” contraria os princípios e desejos de Walt. “Pessoas não são substituíveis. Você nunca conseguiria reproduzir a naturalidade da fala dele”, escreveu ela. 

Walt, o robô

O animatrônico de Walt Disney será exibido em um novo espetáculo chamado “Walt Disney – Uma Vida Mágica”, apresentado na casa de ópera da Main Street, com o objetivo de proporcionar aos visitantes a sensação de estar na presença do fundador da companhia.

Miller, que tinha apenas 10 anos quando o avô faleceu, está entre os poucos que viram o animatrônico antes da inauguração oficial. Sua reação foi imediata: “Acho que comecei a chorar. Para mim, não parecia ele”, repercute o NY Post.

Diferente da maioria dos bonecos animados do parque — geralmente personagens fictícios ou figuras históricas com movimentos limitados —, o novo modelo de Walt promete ser o mais realista já criado, com falas baseadas em discursos originais e gestos mais sutis e naturais. Ainda assim, a ideia incomodou Miller profundamente.

Ela teme que suas críticas possam gerar represálias por parte da empresa, como a perda do o vitalício ao parque — um benefício concedido após seu pai, Ron W. Miller, deixar a presidência da Disney em 1984. Mesmo assim, ela decidiu se manifestar:

Você começa a se irritar. Cansa de ficar quieta. Então falei no Facebook. Como se isso fosse adiantar alguma coisa? O fato de a empresa ter visto é até engraçado”, disse ao Los Angeles Times.

Pouco tempo depois da publicação, Joanna foi convidada a se reunir com o CEO da Disney, Bob Iger, e com membros da equipe de Imagineering — a divisão criativa por trás das atrações imersivas dos parques — para discutir a questão. “Ele foi muito gentil”, relatou. “Deixou-me fazer o meu discurso.”

Legado familiar

Miller esclareceu que fala apenas por si, não em nome de seus cinco irmãos ou de outros membros da família, mas disse representar os valores de sua mãe, Diane Disney Miller, e do próprio Walt. Diane, que fundou o Museu da Família Walt Disney em São Francisco, também havia recusado anteriormente uma proposta de recriação robótica do pai.

Segundo Jeff Shaver-Moskowitz, membro da equipe Imagineering, não há registros de que Walt tenha manifestado oposição a esse tipo de homenagem. "Sabemos que é algo anedótico, e não podemos confirmar o que ele disse em conversas particulares", repercute o NY Post. 

Essa é justamente a dificuldade enfrentada por Miller: as pessoas que poderiam confirmar o desejo de Walt — como seus pais e colaboradores próximos — já faleceram. Ela se vê como um dos últimos laços diretos com o legado original do avô.

Miller reconhece que a família perdeu o controle sobre a imagem de Walt Disney quando vendeu seus direitos em 1981, em uma negociação de ações no valor de US$ 46,2 milhões. Desde então, a família tem pouca influência sobre como o nome e a figura do patriarca são utilizados pela empresa.

Apesar disso, a Disney afirma ter consultado o Museu da Família Walt Disney e representantes da família durante o desenvolvimento da figura animatrônica. Ainda assim, para Miller, o resultado final não representa fielmente o homem que ela conheceu.